Nota 10 em Tudo.

Naquela época eu dividia as mulheres em dois grupos: as que você come e  não liga no outro dia e as que você não come, mas liga no outro dia. As mulheres talvez tivessem a esperança de que a ligação fosse sinal de compromisso, mas, de fato, o que eu queria era passá-las pro outro grupo.
Havia escolhido estudar contabilidade e eu já sabia que o Ed Mort havia virado detetive apesar de sua mãe lhe ter indicado o ofício dos contadores. Mas como era só um curso técnico, não encuquei. Além do mais, Bukowski era carteiro.
No curso, aprendi algumas coisas sobre a tal ciência contábil, mas, do que mais me lembro são as piadas sobre o balanço das meninas (poucas) que haviam na sala. Imagine se eu tivesse estudado enfermagem!
Conheci uma mocinha muito acanhada que sempre tirava nota máxima nos testes. Era conhecida pela galera como nota 10. Um apelido duplo que, ao mesmo tempo se referia ao seu currículo e à sua grande e empinada bunda.
Todos os alunos queriam se perder naquele balanço patrimonial, mas a maioria deles fazia jus à escolha da personagem de Veríssimo.
Numa das aulas a professora gordinha e de óculos nos colocou juntos para um estudo de resultados de um empresa da qual não me recordo o nome. Juntamos as carteiras e ficamos ali olhando para a documentação que a professora distribuíra. Enquanto ela lia os números eu fitava sua boca carregada de batom vermelho sangue. Tive uma ligeira ereção.
“Deixa que eu faço, você só coloca o nome” ela disse.
Eu segui suas orientações. Achava tudo aquilo muito sistemático e sem emoção, mas tinha que garantir meu lugar no mercado de trabalho e descobri que contabilidade era o meio mais fácil. Algo que não requeria muito esforço mental e pagava bem.
No fim ela tinha seu 10 e eu me encaminhava para o final do curso que era o que mais me interessava.
Naquela tarde, pegamos o mesmo ônibus e, apesar de eu não ir para o mesmo destino que ela e de ela saber disso, nada falou. Senti a velha química no ar e foi sem erro. Convidei para o teatro e ela aceitou. Daí em diante os caras do curso passaram a me olhar com inveja enquanto eu me esbaldava nas carnes dela.
Descobri que atrás da aparente inocência daquela menina dedicada havia uma viúva negra viciada em sexo. Dormíamos juntos três vezes por semana e eu precisava de três dias para me recuperar da noite anterior de modo que ela me pegava sempre de ressaca sexual. Era um suplício, aquela maluca me levava para o banheiro do curso depois do intervalo e me chupava até o fim. Tinha uma espécie de adoração pelo meu membro. Tirava-o da cueca com cuidado e perdia alguns minutos apenas olhando para ele, antes de colocá-lo na boca e chupá-lo loucamente.
Com o tempo achamos que morar juntos seria uma boa idéia. Fazíamos o mesmo curso e tínhamos o sexo em comum. Em três meses estávamos morando num apartamento pequeno no centro, próximo ao Metrô República. Foi quando descobri: ela era completamente doida. Falava enquanto dormia e limpava tudo a toda hora. Não demorou muito para ela começar a pegar no meu pé.
Começou a me dizer onde eu deveria ir, como deveria me vestir, quem deveria ser meu amigo e uma série de coisas sobre como se deve manter a casa limpa.
Nos separamos oito meses depois e como já havia me formado, nunca mais a vi. No fim das contas, cheguei à conclusão de que ela fez comigo o que quis. Eu achei que estava no comando o tempo todo, mas ela soube me fazer crer nisso. Nota 10, também em relacionamentos.

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