A vida em uma Bunda

Subindo as escadas do metrô eu vi aquela bunda enorme e cheia de buracos, escondida sob aquela calça vermelha. Dava para ver os buracos que se intensificavam e distorciam à medida que ela ia dando passos. Eu quase pedi para que ela parasse, era a visão do inferno. Meu Deus, com você permitiu que aquilo chegasse àquele ponto?

Vendo esse troço eu compreendo porque a maioria das mulheres quer logo se casar com o primeiro idiota que aparece. É uma questão de sobrevivência. Quem, em sã consciência, teria coragem de colocar as mãos naquela geléia cheia de buracos separada por uma calcinha?

Na sua mocidade essa mulher devia ser um bom pedaço. Mantinha ainda o caminhar das garotas que sabem que são observadas. Os cabelos louros saíam da cabeça já sem o brilho dos tempos idos.

Imagine você quantos homens essa mulher não destruiu com um só olhar. Quantos nãos ela disse aos que pretendiam ter aquele corpo por alguns instantes. Agora ninguém consegue olhar sem uma pitada de pena da moça. Jesus!

Deve mesmo ser difícil olhar para si depois de alguns anos de reinado e ver que aquilo não se sustentou ao longo dos anos, não é à toa que a indústria de cosmético não para de crescer, são os gritos ocultos destas ex-rainhas clamando por beleza enlatada, que mantém esse mercado.

Isso faz com que se pense no tempo que destrói todas as aparências. Faz isso não só com os corpos, faz também com as pessoas e seus relacionamentos.

No começo as pessoas não se conhecem, daí vem o tempo e PIMBA destrói com as máscaras e mostra as verdadeiras faces medíocres que queriam o anonimato.

Bom, esqueço a bunda-de-queijo-suíço e desço a escada rolante sentido terminal de ônibus. Lá estão os mesmos rostos falidos de sempre. Fila, catraca, bancos, pontos de ônibus e finalmente salto na Avenida Sumaré. As empregadas indo limpar as casas das madames classe média, os porteiros indo cuidar do entra e sai dos prédios e as pessoas todas indo pra seus trabalhos de merda que pagam salários de merda e nos quais, comem merda. Eu estou no bolinho. Também quero minha parte nessa merda toda, só que, pelo menos, tenho consciência disso, se bem que não sei se isso é uma vantagem ou se piora as coisas. Como dizem, às vezes, a ignorância é uma dádiva, além do que não dá para saber o que se passa na cabeça das pessoas.

Nem me lembro direito o que fiz nesse dia, todos os dias parecem iguais dentro de um escritório, sigo teclando o teclado e grampeando papéis, controlando as coisas através dos números. Já pensou no papel dos números? Eles estão aí para explicar todas as coisas. Tudo o que falam na televisão vem acompanhado de cifras, porcentagens e estatísticas numéricas que procuram explicar tudo, mas os números não devem estar nem aí para essas explicações. Para o dois ele é só o dois e pronto.

Acabo o que estava fazendo e saio para o almoço. Tem um restaurante muito bom e barato na avenida, me encaminho para lá e peço um prato do qual não me lembro agora. Na mesa da frente se senta uma loura muito bonita, cabelos lisos, separados no meio e com semi-tons. Seios grandes e aquele ar de quem é dona do mundo. Um cara se senta na mesa ao lado e claramente começa a paquerar a moça. Ele veste terno com uma gravata vermelha. Olha para ela, que joga o cabelo e leva o garfo com macarrão à boca. Suga o troço para dentro da boca e os cantos ficam manchados de molho. Ele sorri polidamente e apresenta as covinhas nas bochechas. Ela sorri de volta e ele se convida para sentar ao lado dela que aceita com um sorisso cordial.

Mais um relacionamento nasceu neste dia. Não lhe parece incrível que neste exato momento haja pessoas iniciando relacionamentos pelo mundo todo, fazendo sexo loucamente e brigando e gozando e mentindo e chorando e o caralho a quatro?

Pois é, estamos tão acostumados a pensar em nós mesmos, que esquecemos de lembrar que há um mundo de pessoas e de sensações bem ali, fora da nossa existência egoísta. A loira e o homem de terno devem estar trepando enquanto escrevo este conto e talvez jamais o leiam, mas, o destino deles também faz parte desta grande ilusão a que chamamos vida.

Estamos aqui para descobrir propósito de estar aqui, mesmo que isso não faça o menor sentido.

Nem eu, nem você, nem a bunda-de-queijo-suíço, nem os corações que ela destruiu, nem o cara de terno e tampouco a loira do macarrão estão livres dessa incerteza. A única certeza de que todos partilhamos está retratada naquela bunda esburacada e eu sei que isso lhe mete mais medo que a própria morte.

O fato é que a loira e o cara da gravata vão até um motel que fica perto da Barra Funda e logo estão nús na cama fazendo amor. O sexo entre desconhecidos é sempre mais picante que o sexo monótono dos casados e eles estão transando loucamente.

Ela grita pedindo para que ele bata com força. Ele obedece. Se descontrola e bate com força demais, tomado pelo instinto animal que aflora quando se faz sexo. Ela começa a chorar e o pau do cara amolece. Mais um relacionamento termina naquele dia. Não lhe parece incrível que neste exato momento haja pessoas terminando relacionamentos pelo mundo todo, fazendo sexo loucamente e brigando e gozando e mentindo e chorando e o caralho a quatro?

Puta mundo louco!

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